Madeira Postcards #1


O centro histórico e o mercado. Começar a semana com as primeiras partilhas daqueles dias bonitos passados na Madeira, relembrando o passeio bom no Funchal e no carismático Mercado dos Lavradores. Hoje partilho como foi o meu regresso à ilha, catorze anos depois de ter estado lá. À semelhança da última viagem, desta vez também voei sozinha, à descoberta. Só que agora a visita foi feita no inverno e isso trouxe um novo olhar sobre a Madeira. E eu quero partilhar tudo convosco!


Final de Novembro. O voo estava marcado há muito. Só que depois da odisseia de Madrid — onde me roubaram o Iphone — estava um pouco desmotivada e, por momentos, pensei em deixar passar esta viagem à Madeira. Rapidamente retomei o bom senso e uma vez que os voos já estavam comprados e os tios estavam à minha espera, fiz malas e abalei. A viagem correu incrivelmente bem e eu morria de saudades daquela ilha...


A primeira vez que visitei a Madeira tinha cinco anos. Aos doze regressei, desta vez sozinha, para aproveitar as férias de verão com a prima. As memórias que acarinhei ao longo do tempo eram agora simples recordações daquilo que mais me marcou: as muitas estradas sinuosas e os (ainda mais) túneis iluminados, que transformavam o dia em noite a cada dez metros. Lembro-me das palmeiras e do toque tropical que davam ao Funchal e lembro-me especialmente do contorno da ilha que se iluminava à noite, onde as casas pareciam milhares de estrelas a flutuar na escuridão. Acho que esse era mesmo o retrato mais bonito que guardava da Madeira. Voltar lá agora, catorze anos depois, foi uma experiência totalmente nova.




Este passeio não representa o primeiro dia na ilha. Aliás, sem telemóvel e perante os contratempos, assumi que esta viagem funcionaria como um detox digital e serviria para matar saudades dos tios. Por isso no meu primeiro dia de viagem acabei por almoçar com a tia no Funchal, instalar-me e matar saudades da casa, dar uma voltinha de reconhecimento e adorar o mais recente membro da família; tem quatro patas, uns bigodes muito grandes, é um dengoso e dá pelo nome de "miau". Vá-se lá entender.

Bem, mas hoje vamos levar-vos a passear pelo centro histórico do Funchal e pelo mercado, num dia em que se assinalava os 77 anos do Mercado dos Lavradores com o evento d'"O Mercado Sai à Rua".




Estas fotografias são do terceiro dia na Madeira mas têm uma razão muito especial de surgirem em primeiro lugar, nesta série de publicações sobre a viagem. Acontece que eu adoro mercados. Quem me conhece ou segue há algum tempo saberá dessa minha eterna paixão por frutas e legumes, pelos cheiros e texturas, pela vida incrível que se vive num mercado. E este é particularmente inesquecível.

mercado dos lavradores

Fundado em 1940, este espaço apresenta uma arquitetura própria do Estado Novo e um ambiente de grande rebuliço e alegria. Criado com o propósito de se tornar no principal pólo abastecedor da cidade, acaba por ser hoje um dos principais pontos turísticos do Funchal. Na fachada, na porta principal e na peixaria podemos encontrar os grandes painéis de azulejos pintados com temas regionais, que contam um pouco da história da cidade e nos transportam para os dias de antigamente. Mas é lá em baixo, no átrio principal, que encontramos o presente e o passado de mãos dadas. Temos os comerciantes e produtos de sempre acompanhados com o glorioso toque da modernização (e do turismo), através dos novos espaços que foram abrindo na orla do mercado.




Para além das tradicionais bancas de frutas e legumes, encontramos ainda cafés e esplanadas, sítios onde podemos petiscar e tomar qualquer coisa, numa aliança perfeita entre o antigo e o moderno. É uma fusão daquilo que de melhor a Madeira tem para oferecer. Muita variedade de coisas boas e um atendimento caloroso, familiar, único.

A melhor experiência de se visitar este mercado está, no entanto, na passagem pelo comércio tradicional. Para junto às bancas, sentir os vários aromas das muitas frutas dispostas e receber a hospitalidade de quem nos atende com um sorriso. Muitas das vezes os madeirenses (os homens, entenda-se) tendem a ser inusitados, no sentido em que tomam muito rapidamente a nossa confiança como garantida. São quase tão dengosos como o gato dos meus tios. Mas depois uma pessoa não leva a mal. É o sotaque, o brilho nos olhos deles por nos mostrarem aquilo que têm de melhor. E se têm coisas boas; a fruta é toda maravilhosa. 





Parece que estamos num país tropical. Por momento esquecemo-nos que estamos em Portugal. Sentimo-nos no Brasil, suponho. Nunca vi tanta variedade de maracujá — e todos super docinhos! — num só espaço. E depois a anona, a banana da madeira, o ananás-banana, o tamarilho, a pitanga, a goiaba... tudo ali, colorido, aromático, reluzente, a chamar por nós, pronto para serem provados. E é isso mesmo que podemos fazer. Todas as frutas podem ser provadas — nem todas as carteiras as podem comprar — mas o mercado merece a visita por essa experiência riquíssima de sabor e cultura.






À medida que nos vão dando a provar as várias frutas explicam-nos o que são, como se colhem, como se podem ver maduras ou não. Tudo isto cantado com aquela pronúncia engraçadíssima e cerrada, que custa a perceber. Mas aí nós sorrimos e acenamos. E deliciamo-nos com tanta gostosura junta.

Acabámos por não comprar nada (penso que a recusa em abrir os cordões à bolsa deixa os comerciantes chateados, que o sorriso desaparece com alguma rapidez) mas o mercado serve para essa experiência única. Ver a oferta da nossa ilha, conhecer frutas e sabores únicos, viver a vida do mercado, onde as cores, sons e cheiros se misturam, numa dança harmoniosa entre o genuíno e o fabricado, entre a tradição e o turístico.




Depois da manhã passada no mercado — onde percebi que as mulheres não são propriamente bem vistas, explicou-me a tia, afirmando que as compras do peixe e da carne, por exemplo, eram competência dos homens da casa — resolvemos continuar o passeio pelas ruas do centro histórico do Funchal. Fizemos uma pequena paragem numa pastelaria Ninho d'Águia, onde comi a melhor queijada de requeijão de sempre (falaremos sobre isso mais adiante) e continuámos a deambular pelos marcos icónicos da cidade.



Passámos pela Praça do Município, pela Catedral, pelo bonito edifício da Caixa Geral de Depósitos, pelo Palácio de São Lourenço, pelo Golden Gate Gran Café, pela Assembleia Regional da Madeira e fomos descendo em direcção ao mar. É engraçado porque ali, pode onde quer que se desça, vai-se sempre descer em direcção ao mar. Uma anotação exclamativa de quem não vive na ilha e adorou esta constatação do óbvio. Chegando ao Passeio Marítimo do Funchal, também conhecido como Promenade, podemos ir até à Praça do Povo que é o lugar perfeito para, simplesmente, se estar.

A grande escadaria ajardinada estende-se em direcção ao mar e permite-nos ficar ali, acomodados, a contemplar a cidade, a costa, a silhueta da ilha. A praça foi construída sobre o aterro que ali existia, depois das enxurradas de 2010. É, por isso, um bonito marco simbólico que veio embelezar a costa da cidade.



Estes foram os primeiros postais da madeira, que estavam guardados para uma ocasião especial. Pois bem, encaro este mês de Janeiro como uma ocasião especial. É o mês dos regressos e estou motivada a voltar ao blog com dedicação e empenho. Por isso podem contar com algumas fotografias bonitas desta viagem, bem como das viagens a Sevilha e Madrid. 

Para já deliciem-se com um dos mercados mais ricos que visitei e fiquem com vontade de conhecer — ou regressar — à ilha da Madeira.

4 comentários

  1. Gostava de poder lá voltar um dia!


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  2. Ai, Sara. Para o mês que vem vou aos Açores, um pouco por influência das tuas publicações aqui pelo blog... já consigo antever o resultado que esta série de publicações sobre a Madeira terá em mim! Estas fotografias não deixam ninguém indiferente. :)

    Beijinhos

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  3. Olá Sara, confesso que estava ansiosa à espera dos posts sobre a Madeira quando descobri que tinhas estado cá na ilha. E que post fantástico! Gostei imenso das fotografias e das palavras escolhidas para descrever um dos espaços mais emblemáticos e acarinhados do Funchal, o Mercado dos Lavradores.
    A queijada de requeijão da Penha D'Águia, acho que erraste o nome :), é realmente umas das melhoras da região.
    Beijinhos.
    Micaela

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  4. Que bom foi ler as tuas palavras e olhar estas fotografias. Desde que me mudei para o Reino Unido que dou muito mais valor à minha pequena grande ilha, com imensas coisas e lugares bonitos. O teu post deu-me uma grande inspiração de simplesmente passear pelas ruas do Funchal e fotografar sem fim.
    Obrigada por um post tão bonito e delicioso de ler.

    Um grande beijinho de uma Madeirense com um sotaque mais compreensível do que as pessoas antigas! haha x

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