O segundo dia por Dublin. Não podíamos estar mais entusiasmadas, naquela manhã de sexta-feira. Estava um dia lindo, o sol brilhava pela janela, a cidade começava, lentamente, a acordar e nós estávamos desejosas de a explorar. Tínhamos tantos planos! E depois da peripécia do voo e das aventuras do primeiro dia, resolvemos que tínhamos mesmo que aproveitar este segundo, ao máximo. De tal forma que o vamos ter que dividir em duas partes, pode ser?
Hoje mostramo-vos o nosso pequeno-almoço (e o melhor caffe mocca de sempre), a nossa visita ao National Museum of Ireland - Archaeology, o almoço naquele que revelou ser meu sítio favorito em Dublin e a Christ Church.
Como por esta altura já sabem, faço sempre um roteiro antes de viajar. Seja para onde for (nem que seja para o Porto). E nesse roteiro, posso-vos assegurar que cerca de 70% de sugestões são gastronómicas. Café, restaurantes, bares (...) tudo o que me saltar à vista vai parar à lista. Foi o caso deste Brick Alley Cafe.
Era pertinho de casa e como abria cedo foi a escolha perfeita para tomar o pequeno-almoço. Não se revelou propriamente na escolha mais em conta mas (oh!) soube-nos pela vida. Pedimos dois cafés mocca que foram, de longe, os melhores que alguma vez provámos — e que até hoje continuam a liderar o top — e dois baggels tostados, que vinham acompanhados de manteiga e compota. Uma delícia. No total pagámos 13€ mas foi um pequeno-almoço que nos encheu de forças e aqueceu o coração. Ainda hoje suspiro por um mocca igual.
Como no dia anterior já não o tínhamos conseguido visitar, acabámos por ir ao National Museum of Ireland - Archaeology a seguir ao pequeno-almoço. Sabíamos que também era de entrada gratuita e aqui já saberíamos que iríamos encontrar muitas descobertas arqueológicas e muitas peças históricas (grande parte relacionadas com os Vikings, como não poderia deixar de ser). Eu confesso que estava super curiosa por visitar este museu — um bocadinho, talvez, para que pudesse mostrar as fotografias todas. É que ele é louco pela história dos Vikings e nós acompanhamos a série do Canal História então eu estava assim um bocadinho entusiasmada.
O museu ainda é relativamente grande e tem várias salas a visitar. Acabei por fazer uma selecção de algumas das peças que mais me fascinaram, na maioria dos casos porque fiquei assoberbada com intemporalidade dos objectos. Estes três, em cima, mesmo depois dos vários séculos que que passaram (que eu agora não vos sei precisar e não quero enganar), continuam perfeitamente actuais, não acham? É um preciosismo, eu sei. Mas os colares em ouro, o pormenor detalhado daquele alfinete ou o trabalho maravilhoso neste sapato em couro é impressionante.
É História, no seu esplendor e glória. São os seus ensinamentos, as suas marcas, o peso que teve... que tem! Eu adoro visitar este género de museus. Consigo passar lá horas, a ler, a ver, a ouvir. E a imaginar. Sobretudo a imaginar. E depois de ver a série Vikings assimilei a informação do museu de forma muito mais intrínseca e profunda. Se não conhecem a série têm mesmo que ver (oh, Ragnar!).
Adorei a colecção do museu e adorei visitá-lo. Não se torna massudo e vê-se muito bem numa hora e meia, duas horas. Agora, se o museu de ontem estava muitíssimo bem estruturado e as suas colecções muito bem organizadas, no National Museum of Ireland eu acho que o mesmo não acontece.
A estrutura do espaço é muito bonita mas perde com a forma como está montada a exposição, em nichos e boxes individuais, que quebram a leitura do espaço e desvaloriza tudo; o espaço e a exposição propriamente dita. Acho que uma colecção destas deveria estar num espaço arejado, minimal, sem grande ruído visual. Ainda assim, é um must see em Dublin!
Eram agora 11h da manhã (acordámos às 7h30, que fique no registo) e tínhamos combinado ir com o Tiago visitar a Trinity College e aquela biblioteca maravilhosa. Aqui será curioso dizer que foram as imagens desta biblioteca que me aguçaram a vontade de ir a Dublin.
E querem saber porquê?
Por isto:
É ou não é de tirar o fôlego? E as minhas fotografias nem lhe fazem justiça, acreditem. É uma biblioteca, sim, mas não é só uma biblioteca. Foi a biblioteca que me entusiasmou a marcar viagem, foi a biblioteca que me tomou 2h daquela manhã e que me colocou a trocar de objectivas ali mesmo, só para captar melhor, registar mais, guardar tudo.
A visita começa muito antes de entrarmos neste maravilhoso exemplo de cultura. Começa com a entrada na faculdade, propriamente dita, com os seus edifícios clássicos, continua com o passeio pelos jardins, entre turistas e estudantes e então culmina no acesso ao edifício da Old Library, desenhado por Thomas Burgh com data de 1712.
Sendo a maior colecção de manuscritos medievais, o especial destaque vai para o Livro de Kells, um Evangelho datado de c. 800, encadernado em quatro secções separadas, com páginas ornamentadas. Escusado será dizer que era o ponto com mais turistas reunidos e, para além de ser proibido, era impossível e fotografar. Ainda assim foi um memorável estar tão perto de um exemplar tão raro de um manuscrito destes. Afinal de contas, foi aqui (e foi assim) que surgiu a área do design gráfico e de comunicação, em especial a vertente da paginação e edição. Por isso este Livro de Kells é o (tetra-tetra) tetra-avô dos livros que agora faço, já viram?
O acesso ao campus é gratuito mas a entrada na Old Library é paga. Os preços variam entre os 7€ e os 10€ por pessoa, sendo que o estudante paga 9€. Este bilhete dá-vos acesso a visitar o edifício, ver a exposição "Turning Darkness into Light", o Livro de Kells, o núcleo central da biblioteca, que é o que vêem nestas fotografias e as exposição temporária, no piso inferior.
Posso dizer-vos que, embora não tenha pago entrada (visto que o Tiago trabalha na faculdade e isso dá-lhe algumas regalias neste aspecto; de levar penduras com ele a visitar a biblioteca...obrigada Tiago!) quando voltar a Dublin faço questão de lá voltar. A esta biblioteca. Para além de ser lindíssima tem qualquer coisa de mágico. Aliás, Dublin tem qualquer coisa de muito especial. Por isso, mesmo que o custo da entrada seja um pouco elevado, visitar a Trinity College Library é um must see, sem dúvida.
Duas horas volvidas e eram agora 13h da tarde. O Sol continuava a brilhar e resolvemos seguir viagem até ao sítio que eu tinha determinado como o nosso ponto de encontro para esse almoço. Entretanto, fomos observando a cidade, as pessoas e a vida que por lá se faz sentir. E eu estava seriamente a apaixonar-me por tudo isso.
The Fumbally. Este é mesmo uma daquelas descobertas que só o fantástico mundo web me poderia proporcionar. Descobri este espaço um pouco por acaso, no meio de mil pesquisas e outras tantas investigações. Para esta viagem — e porque não há Cereal Guides para Dublin e mesmo em blogs é difícil de encontrar sugestões assim — até ao Pinterest recorri, como fonte de informação. E nem sei se foi por lá que tropecei neste The Fumbally. Ainda assim, permitam-me que vos apresente:
O The Fumbally fica situado em South City West, perto de St. Patrick's Cathedral. O que me chamou logo a atenção foi mesmo a decoração do espaço; as grandes janelas, o grande pé direito e toda a luz maravilhosa que amaciava as fotografias que vi. O Tiago foi connosco e, curiosamente, ainda não conhecia este restaurante, por isso acabou por ser uma estreia para todos.
Como fomos a pé desde a Trinity College, ainda demorámos um pouquinho até chegar lá. Deveriam ser agora umas 14h, mais coisa menos coisa. Assim que entrámos contemplámos um espaço grande e cheio. Completamente cheio. Mas também cheio de tudo aquilo que tinha imaginado. E mais ainda. E melhor. O cheirinho bom que invadia a sala era maravilhoso e nós agora já só estávamos ansiosos por encontrar uma mesa.
Dirigimo-nos para a fila junto ao balcão para preparar o nosso pedido. E apesar de tudo foi bastante rápido o tempo de fazer o pedido e de, entretanto, sermos encaminhados para uma mesa. O serviço era jovem e muito simpático. Aliás, é mesmo esse o ambiente que se sente no The Fumbally.
Com aspecto rústico, móveis antigos, madeiras toscas, cadeiras diferentes e coloridas, peças de loiça do tempo das nossas avós e um atendimento surpreendentemente jovem e dinâmico, fazem deste espaço um dos meus favoritos de toda a viagem. Aliado a isto, temos ainda a enorme vantagem de todos os pratos serem confeccionados com ingredientes orgânicos e biológicos, de produção própria ou de produtores locais.
Todos os pratos que víamos circular pelo restaurante tinham um aspecto delicioso. Pratos coloridos, aromatizados, que representavam na perfeição a filosofia deste espaço. Aqui o conceito é comer bem, ter produtos frescos e de qualidade. E se julgam que apenas me refiro ao pão ou aos vegetais, desenganem-se; o The Fumbally tem a capacidade de se fornecer de bebidas caseiras e cervejas artesanais e até têm uma pequena produção de mel. Além do mais, pratos com estas cores maravilhosas — e produtos tão frescos — só podem ser deliciosos. E são-no, de facto.
Pedi uma Pulled Porchetta (6€), uma sandes de pão ciabatta com porco cozinhado lentamente e compota de ruibarbo doce, que era simplesmente divinal. A Joaninha alinhou num Wrap de Falafel (6€) que era também super saboroso e muito bem temperado. As doses eram muito generosas e por isso não houve necessidade de nos alongarmos nos pedidos. Como todos os restaurantes em Dublin têm sempre uma garrafa de água na mesa à disposição dos clientes, acabámos por nos ficar pela água, o que resultou num almoço super barato, tendo em conta o espaço e a refeição maravilhosa.
Maravilhadas com a descoberta e com a refeição que acabáramos de ter, despedimo-nos do Tiago (que tinha que ir trabalhar) e aventurámo-nos em direcção à Christ Church Cathedral. Qual não é o nosso espanto, por esta altura (deveriam ser umas 15h45, creio) já não estava sol e os aguaceiros ameaçam cair a qualquer momento.
Resguardámo-nos de imediato na igreja, que ficava relativamente perto do restaurante. A entrada para visitar a Christ Church fica a 6€ por adulto (a meu ver, um pouco exagerado — e que acabou por nos fazer optar por não visitar a St. Patrick's Cathedral, cuja entrada também rondaria este valor). Gosto de visitar monumentos religiosos, apenas pela sua arquitectura e, eventualmente, pela sua história. De resto, não acho que vá gastar 6€ em cada capelinha que queira visitar. Por isso optámos.
E acabámos por optar por este monumento. A Christ Church, ou a Catedral da Santíssima Trindade, é a catedral medieval mais antiga da cidade. Foi mandada construir em 1038 pelo Rei Sitric Silkenberad, rei vicking. Actualmente, a catedral contém a maior cripta de todas as catedrais da Grã-Bretanha e Irlanda — recentemente renovada e agora aberta ao público, com vários objectos de interesse histórico.
Vimos a catedral, sim. Admirámos a sua arquitectura, o seu traçado gótico, os seus vitrais maravilhosos e tudo mais. Mas não sabíamos que havia uma cripta para visitar. Então não a visitámos. E ficámos horrivelmente frustadas. Primeiro, por termos perdido essa oportunidade. Depois porque...pagámos 6€ cada uma, não é verdade? De alguma maneira não encontrámos nenhum acesso à cripta e tenho que vos dizer que, se havia, não estava de todo bem indicado.
Por isso, queridos leitores, se pensam ir a Dublin e quiserem visitar a Christ Church, não deixem de perguntar pelo acesso à cripta, para que possam fazer a visita completa. Para os entusiastas de recriações, feiras medievais e todo o período viking, aconselho ainda a visitarem a Dublinia, logo ao lado (aliás, o acesso faz-se por esse corredor que vêem na imagem de cima).
Nós não o fizemos pois o bilhete ainda custava 7,50€ (estudante) e além do mais tínhamos a Guinness Storehouse à nossa espera! Mas isso terá que ficar para o próximo post, já amanhã.
Sara, essa biblioteca é um sonho!!! As ganas com que fiquei de ir a Dublin agora... estou ansiosa pelos próximos posts :) *
ResponderEliminarQuerida Catarina, obrigada pelas tuas palavras sempre tão aconchegantes! Dublin foi uma cidade que me surpreendeu muito e adorei :)
EliminarOh my. As tuas fotos, Sara. Cada vez me peco mais por aqui! E essa biblioteca...Maravilhosa! Mesmo de tirar o fôlego. E a vontade de visitar Dublin a crescer!
ResponderEliminarJiji
A bibliteca é um estrondo, de tirar o fôlego mesmo :) acho que ias adorar a cidade!
EliminarMagnífico este teu segundo relato de Dublin, Sara! Estou cada vez com mais vontade de ir (como se já me faltasse!) :P
ResponderEliminarGrande dica a que deste sobre a Christ Church. Se lá for, já sei que tenho que procurar ou perguntar pela cripta. Estou a ver também que as entradas em certos monumentos não é nada barata, mas em alguns sítios não me importo nada de pagar, mas noutros - se forem mais ou menos mais do mesmo - dispenso. Na Escócia era a mesma coisa: museus grátis, monumentos caros. Se bem me lembro paguei 16€ para entrar no Castelo de Edimburgo e o Eilean Donan (outro castelo) andou perto disso ou foi ainda mais.
Mas há coisas que valem mesmo a pena.
Por exemplo, eu que não tenho amigos a trabalhar na Trinity College, pagava na boa para entrar nessa biblioteca maravilhosa. Sou louca por bibliotecas, são o meu ponto fraco, não havia como não pagar entrada. TENHO que lá ir.
E não te sabia fã da série Vikings, Sara, bom saber! É a minha série favorita! Só não digo que é Game of Thrones porque leio os livros, portanto é Vikings. Ando a contar os dias para o regresso, que é já em Fevereiro.
No que toca a história Viking, tanto a Irlanda como a Escócia são bastante ricas. Adorei a parte do National Museum of Scotland que tinha artefactos e ossadas Vikings, quando lá fui! :D
Bem, agora vou espreitar o 3º relato de Dublin. ;)
Joan of July
Catarina linda, também acho que ias adorar a cidade! E esta biblioteca é muito a tua cara :)
EliminarÉ como eu disse, é memso daqueles sitios onde eu pagava mais uma e outra vez!
Adoro a série, Catarina, e mal vejo a hora de recomeçar nova temporada! É já em Fevereiro? *happy dance* Escócia é também um dos meus próximos destinos de eleição :)
Fiquei apaixonada pelo The Fumbally! Quero mesmo ir! As tuas fotos são lindíssimas! Achaste os comes e bebes muito caros por lá?
ResponderEliminarTens mesmo :) tem pratos deliciosos e nada caros! Lá em Dublin é um pouquinho mais caro que cá em Portugal, mas não se compara com Paris, por exemplo, que é absurdamente caro. Lá as bebidas são caras, mas os pratos são como em Portugal e podes sempre antever as cartas e preços dos bares e restaurantes no Zomato Dublin :)
EliminarSó uso o "Trip Advisor", é o meu melhor amigo. Mas de qualquer maneira, vou levar todas as tuas dicas no meu bloquinho :)
EliminarVou a Dublin este fim-de-semana, e estou adorar ler os teus posts.
ResponderEliminarSo tenho dois dias espero conseguir ver tudo o que quero. O chato e ficar de noite e tudo fechar tao cedo...