uma das melhores coisas de 2020
Em resumo. Um ano que foi revolucionário. Em tudo e em todas as escalas. Para o mundo e para cada um de nós. Um ano que nos ensinou tanto e nos deixou tantas marcas. Vou partilhar hoje uma reflexão sobre um ano que nunca será esquecido. Um post sobre aprendizagens, força de vontade e capacidade de adaptação...
Se há algo que dois mil e vinte nos ensinou é que não devemos tomar nada como garantido. Que a vida muda e, com ela, também os planos. Sempre fui pessoa de objectivos, de traçar metas, de ter prazer em colocar certos e riscados na lista de tarefas. Sempre fui, acima de tudo e como tantos de vós, pessoa de ir. Viajar, sair, viver e aproveitar todas as maravilhas desse mundo fora.
Em janeiro do ano passado planeava uma grande viagem com os meus compinchas — aqueles dois que me acompanharam até à América do Sul. Iríamos em abril até ao Sudeste Asiático. Estava tudo praticamente pensado; os voos, o itinerário, os hotéis. Vontade e ideias tínhamos aos montes. Por esta altura também já tinha uma viagem mais do que certa (e esta toda comprada): Paris. Iria com a minha irmã celebrar o seu 25º aniversário na cidade da luz e ao sítio mais mágico do mundo, a DisneyLand.
Em fevereiro já se ouvia falar de um vírus altamente contagioso, que afectava o outro canto do mundo. Falava-se por alto, sabíamos que era real mas não sabíamos realmente de que forma nos iria afectar. Por esta altura ainda continuava a voar, e muito, já com medidas acrescidas de segurança e higiene.
o confinamento
Foi em Março que a realidade do "outro canto do mundo" nos bateu à porta e entrou sem ser convidada. No dia 16 de março, três dias antes da nossa partida para Paris, o mundo que conhecemos entrou em confinamento. E esta foi a palavra que definiu o ano que passou. Um ano que ficou confinado, submetido a uma pandemia mundial, que nos afectou a todos, de tantas formas.
A casa passou a ser o nosso refúgio e os noticiários a banda sonora dos nossos dias. As viagens, os trabalhos, os estudos, os sonhos e a vida, no geral, passaram a ficar suspensos, na iminência de que tudo iria ficar bem em breve.
a casa
Deixei de voar em Março e, como tantos outros trabalhadores, fiquei em casa. Sem saber muito bem o que fazer ou o que esperar, ia vendo os dias passar. Estaria a mentir se dissesse que, numa primeira instância, ficar em casa me abalou. Não, pelo contrário. Andava com um ritmo de voos e madrugadas intenso e poder parar um bocadinho, apesar de tudo, foi até uma forma de recuperar o sono perdido. Além disso, estava a viver no 2º direito há relativamente pouco tempo, tinha ido buscar o Toulouse há menos tempo ainda e olhei para esta situação como uma oportunidade de aproveitar mais a nossa casa, o nosso gato, o nosso descanso.
Ainda assim, dois grandes medos eram constante no meu pensamento: a possibilidade de a doença afectar os meus e a instabilidade do meu trabalho.
A casa foi crescendo e nós crescemos com ela. Aproveitámos o tempo para ver o que nos faltava, o que podíamos ir fazendo ou comprando online e este 2º direito foi ganhando mais e mais a nossa cara. Aproveitámos também para namorar muito com o nosso quatro patas — que agora está mal habituado e só sabe o que é viver com as donas em casa. Aproveitámos para subscrever todas as plataformas de streaming, ver todas as séries e filmes que gostávamos, aproveitámos para treinar em casa e adaptar os treinos às nossas limitações e cozinhámos. Muito.
E, no meio de tanta incerteza, conseguíamos olhar sempre para cada manhã com um sorriso. Houve dias mais fáceis, outros nem tanto, mas desde que estivéssemos juntas e que os nossos estivessem bem, tínhamos esperança.
o trabalho
No final de Agosto voltei a voar, aos poucos. O ritmo ainda hoje se mantém assim, a meio gás, com poucos voos, totalmente o oposto daquilo a que estava habituada no meu tipo de aviação. Mas ainda hoje penso na sorte que tenho de, mal ou bem, ainda estar empregada e numa área que adoro. Certo é que o amanhã não se sabe, mas se há coisa que 2020 me ensinou é a arte de viver dia-após-dia.
as pessoas
As pandemia roubou-nos aquilo que de mais certo tínhamos na vida: as pessoas. A sua presença, os seus beijos, o seu toque. Passámos a falar com a avó somente ao telefone, a conversar com os amigos através de video-chamadas e, dia após dias, íamos inventando novas formas de manter o contacto. Penso que, para além de confinados, passámos a viver conformados.
Estávamos agora em Maio e começámos a recuperar um pouco da nossa liberdade, confiantes na falsa sensação de que tudo estaria agora a ficar bem. Conseguimos ir uns dias para sul. Aqui, o confronto com a realidade foi cru e duro: nunca teria imaginado ver os grandes hotéis do Algarve completamente fechados. Tudo parecia surreal, fantasmagórico, tirado de um filme.
Em Junho voltámos a retomar o contacto com alguns amigos, sempre cumprindo as leis impostas pelo governo e respeitando os limites. E soube tão bem. Mesmo sem beijos e abraços, o poder ouvir a gargalhada, ver o brilho dos olhos, valeu tanto a pena.
Foi também em Junho de dois mil e vinte que, sem querer, me voltei a apaixonar. Sempre fui péssima nos timings e podem concordar que começar uma relação em plena pandemia é evidência de facto. Mas sobre isso falaremos noutra altura.
2020 foi um ano de mudança. E, acima de tudo, um ano que me mudou. Em todos os aspectos. Não foi um ano produtivo do ponto de vista criativo, mas foi um ano de intenso crescimento e de importantes tomadas de decisão. Não foi um ano fácil e durante muito tempo me deixei amargurar pelas coisas más. Mas hoje é dia de estar grata pelas boas: pela casa bonita que temos, pelo Toulouse que adoptámos, pelos momentos que partilhámos, pelos passeios que fizemos ao Porto, à Costa Vicentina, ao Algarve. Pelos jantares de amigos que conseguimos encaixar entre um confinamento e outro. Por estarmos todos bem de saúde.
E o vosso dois mil e vinte, como foi?
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