Um passeio por St. Stephen's Green, as [muitas] portas [bonitas] de Dublin, o brunch no Gran Canal, a visita à Dublin City Gallery e a noite na cidade. Os artigos sobre viagens — pelo menos os meus — tendem a alongar-se. Mas prometo que valem muito a pena. Mais que não seja apenas pelas fotografias.
Gosto sempre de vos transportar comigo até àqueles dias bonitos em Dublin e desta forma acabo por trazer de volta as memórias felizes daquela viagem, pois é aqui que venho nos momentos de grande saudade. E é aqui que posso reviver, através dos relatos e fotografias que partilho, todos os pequenos detalhes de Dublin. E isso é mágico. Por isso acompanhem-nos nesta viagem e vejam como foi o nosso quarto dia na cidade.
Esta manhã de domingo amanheceu bonita e bem cedo, como já estávamos habituadas. Não há espaço para preguiçar numa viagem destas e não há cansaço que demova a nossa vontade e explorar todos os cantos e recantos da cidade. Aproveitámos o sol bom que se fazia sentir e fomos passear um pouco pelo St. Stephens Green, um jardim bonito e bem arranjado, com um grande lago, muitos patos e pássaros.
É uma zona muito tranquila e um verdadeiro escape à cidade — dentro da cidade. É perfeito para uma manhã solarenga. Comprar um café ou uma bebida quente e sentar nos bancos do jardim, só para admirar a sua calma, a sua gente. E como era domingo pudemos ver várias famílias irlandesas a aproveitar aquela manhã linda. E isso é muito especial, ver de perto como eles aproveitam a sua própria cidade. Faz-nos sentir parte dela.
Tínhamos combinado um brunch com a Mariana. Como nós, turistas, acordámos cedo demais para um domingo, ela veio ter um pouco mais tarde connosco e levou-nos a conhecer uma zona nova na cidade. Nova para nós, que ainda não tínhamos lá ido, e nova na verdadeira acepção da palavra. Mas entretanto, conseguem imaginar o meu deleite com estas portas todas ao longo do caminho, não conseguem?
As portas de Dublin, com as suas várias cores, formas e feitios, fizeram-me lembrar as de Londres e isso teve um gostinho especial. Fico fascinada com estas portas e acho que é uma expressão muito bonita ao nível da arquitectura que por cá não se vê tanto; pelo menos não desta forma. Sinto que lá, em Dublin ou Londres, a preocupação de ter uma porta de entrada bonita e imponente parte da premissa de esta ser, no fundo, o cartão de visita da casa. E por isso é uma porta mais bonita do que a outra...
Portanto, um trajecto que se faria nuns tranquilos 20 minutos a pé, até ao Gran Canal, acabou por se revelar num passeio de quase 1h. Mas não consegui evitar: estas portas eram bonitas demais para não ficarem no registo. Conseguem escolher alguma favorita? Sou tendenciosa mas a azul em cima faz-me a cabeça!
Mas nem só de portas se faz Dublin e por isso continuámos viagem. Já tinha referido que a cidade percorre-se muitíssimo bem a pé e não se torna nada cansativa. Por isso fizemos o percurso do jardim até ao destino do brunch assim, caminhando. Sem pressa, as três, entre conversas e gargalhadas, com calma. Afinal era domingo e tínhamos todo o tempo do mundo.
Chegadas ao Gran Canal pudemos admirar Dublin de uma forma diferente. A cidade apresentava-se agora modernizada, com prédios novos, uma marina e todos os reflexos do avanço do tempo — mesmo que com um pouco de História pelo meio.
A luz que reflectia no canal era maravilhosa e é sempre muito interessante admirar as duas vertentes de uma cidade. De um lado a baixa, a parte histórica, do outro a intervenção moderna, a adaptação das comodidades dos dias de hoje. O plano era ir ao brunch do Herbstreet mas como já lá chegámos por volta das 12h tivemos que colocar o nome em lista de espera — o que nos deu tempo para ir explorar as redondezas.
Como a sede da Google, por exemplo, que fica mesmo junto ao Gran Canal, num complexo de edifícios novos, bem dinâmicos e modernistas. É tudo aquilo que imaginei que seria e mesmo cá de baixo, da rua, conseguimos ver os vários (muitos!) pisos envidraçados ao longo do prédio, com sofás, mesas e candeeiros "só" em azul, vermelho, amarelo e verde. Levam a coisa muito a sério, os senhores da Google...
Tinha ficado acordado que quando a nossa mesa vagasse a senhora do Herbstreet nos ligava. E assim foi. Meia hora depois estávamos de regresso ao Gran Canal e tínhamos a nossa mesa à espera. O espaço estava cheio, bem como a esplanada.
Com uma decoração simples mas divertida, o espaço não é muito grande mas a sua oferta é. Para além da localização deste Herbstreet ser privilegiada, voltada a sul — a receber todos os raios de sol deliciosos — virado para a marina, ainda tem uma série de alternativas para o brunch; desde panquecas a ovos de mil e uma maneiras, a escolha não foi fácil.
Como tal, vieram três escolhas diferentes para a mesa. Para mim uns Eggs Benedict, a Joana optou por uns Eggs Florentine e a Mariana apostou nos Eggos Mexicalos.
Estava tudo uma verdadeira delícia e ainda sobrou espaço para provarmos as panquecas. Pedimos a especialidade da casa, segundo a Mariana; panquecas com mirtilos, manteiga e mel aromatizado com laranja. Uma combinação de sabores sui generis tenho que admitir mas que concluiu a refeição de forma muito agradável.
Um pequeno reparo, que me deixou toda contente: esta ilustração do rótulo do frasco, em cima, é de um dos meus ilustradores favoritos de todos os tempos (Steve Simpson), que é irlandês. Adorei ver que por lá valorizam os grandes artistas que têm de momento.
O meu brunch ficou à volta dos 16€ (os ovos benedict, o sumo de laranja e a panqueca de mirtilos). Tendo em conta o preço praticado na maioria dos espaços que servem brunches aos fins-de-semana, este Herbstreet é um dos que apresenta melhor relação qualidade-preço. Aconselho!
Estávamos muitíssimo satisfeitas e resolvemos continuar o passeio. Eram agora umas 14h, mais coisa menos coisa. O tempo estava a toldar-se mas não choveu. Atravessámos o Liffey para a outra margem, pela O'Connell Street — uma das mais emblemáticas da cidade, que une as duas margens. Íamos visitar a Dublin City Gallery - The Hugh Lane.
Este é o lado Norte da cidade, mas não é propriamente o lado nobre. Tem, no entanto, várias lojas e marcas que nos são muito queridas (como a Zara, Primark Penney's e até uma Parfois!) que nos faz lembrar um pouco a zona da Baixa-Chiado.
A Mariana explicou-nos que este lado do rio era uma zona um pouco mais pobre e que existe alguma rivalidade entre margens. O que é estranho; não estamos a falar da distância de Lisboa à margem sul, por exemplo. Ali o rio atravessa-se a pé. Não vejo o porquê de, nos dias que correm, ainda existir rivalidade.
Apesar de tudo, é também uma zona muito bonita, com todas as suas particularidades. Não se vê tantos monumentos nem edifícios imponentes mas há dois ou três marcos que valem a pena ver. São eles o Dublin Writers Museum, o The Spire (uma estátua com 120m de altura, construída em 1999 numa homenagem ao Nelson's Pillar, bombardeado pela IRA em 1966), a própria O'Connell Street e, por fim, a Dublin City Gallery.
A entrada no museu é gratuita e o que nos motivou a lá ir foi o anúncio de que por lá encontraríamos o Estúdio de Francis Bacon. De resto, íamos completamente à aventura, pois não tínhamos conhecimento do que era a exposição do museu.
A estrutura do museu é muito bonita — só por isso já vale a pena! A própria exposição está muito bem montada e o museu é pequenino, por isso vê-se tranquilamente em 40/60 minutos. Dos vários artistas da colecção, tenho que destacar os que mais me interessaram (até porque não contava nada encontrá-los por lá): Renoir, Manet, Pissarro e Degas.
O estúdio de Francis Bacon, tendo em conta que foi colocado no museu exactamente como foi encontrado, em Londres, era também fascinante. Não estranhem, no entanto, as poucas fotografias do museu; ainda me arrisquei ao início mas logo fui advertida que não podia tirar fotografias (uma chatice, odeio sítios onde é proibido fotografar...).
A noite ia-se instalado aos poucos, eram apenas 17h30 (parece-me). Depois de dar por terminada a visita voltámos pela O'Connell Street novamente. Agora admirámo-la de noite, já com as luzes e decorações de Natal acessas. Em baixo conseguem ver um bocadinho do The Spire, com o topo iluminado.
Embora fria, estava uma noite incrível. Dublin tem uma magia muito própria, completamente diferente de qualquer outra cidade que já visitei. Não tem nada a ver com Paris, nem com Londres, por exemplo. É uma cidade mais calma, organizada. Mais pequena, também, é certo. Não diria mais bonita (mas arriscaria a dizê-lo, correndo o risco de ser injusta) mas igualmente bela. E a noite na cidade, sobretudo naquela altura do ano, é maravilhosa.
Acabámos por não almoçar propriamente, não é verdade? O brunch foi tomado entre as 12h30 e as 14h e foi de tal forma completo que nenhuma das três teve fome durante a tarde. Chegadas a casa o Tiago sugeriu que se encomendasse sushi para o jantar. E assim foi.
Esta é uma sugestão excelente para quem estiver pela cidade, num apartamento (ou até mesmo em hotel, porque não?) e quiser poupar algum dinheiro e tempo. A refeição ficará sempre mais barata do que se for num restaurante e Dublin tem uma rede de entregas ao domicílio fantástica; quase todos os restaurantes o fazem.
O sushi que encomendámos era de um restaurante ali bem perto de casa deles, o Kuraudo Sushi que tinha uma relação preço-qualidade óptima.
Amanhã trazemos o relato do nosso último dia em Dublin. Só de pensar (...) já fico nostálgica de novo. Até amanhã!
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