as voltas que a vida dá...



... e que nós damos com ela. Foi em 2018 que decidi trocar o ecrã do computador pela vista sobre as nuvens, os looks casuais pela farda aprimorada e que coloquei o design em standby para poder assumir novas rotas, novos voos. Foram os melhores quatro anos da minha vida. Trouxeram-me experiências incríveis, memórias preciosas e pessoas que hoje são fundamentais. Fui muito feliz. E hoje conto-vos um bocadinho como foi a minha jornada pelos ares...


Durante os últimos quatro anos e meio passei mais horas a voar do que em terra. Foram incontáveis descolagens, aterragens, muitas madrugadas, vários serviços nocturnos, milhares de passageiros que tive o privilégio de levar pelos céus fora. Conheci cidades maravilhosas, colegas incríveis e histórias marcantes. Assisti a uma pandemia que nos tirou o chão a todos — e que muito abalou a indústria. Vi a empresa reerguer-se, voltei a voar, a viver a rotina que tanto gostava. Até que, num instante, tudo se dissipou.


Adoro mudanças e sou forte apologista de mudar (para melhor) sempre. Aliás, fazer o curso de tripulante foi uma mudança bem radical naquela que era a vida de escritório pacata que levava. O que me traz grande angústia são as mudanças forçadas, por terceiros, que me fogem ao controlo e que são movidas por grandes injustiças.


Lembram-se da história da Casa da Rua Costa Pinto 

Há sempre um princípio para todo o fim. Mas, agora, não importa muito. Porque o agora é o fim de uma época que acaba, que não volta mais. E que vai deixar saudades. Muitas.

Em Março de 2017 já o dizia. Escrevi esta carta aberta sobre a tristeza que sentia ao ter que dizer adeus à casa da minha infância. Hoje em dia penso que não seria bem pela casa, não pela estrutura em sim, ou talvez nem fosse pela zona ou pela rua histórica bonita. A tristeza que sentia era sim sobre o reconhecer que um ciclo terminava, não se repetiria mas que, acima de tudo, findava de uma forma muito injusta e por motivos muito errados.


Pois bem; é exactamente assim que me sinto em relação ao fim do meu percurso na aviação, na forma como a conheço. Foi um término injusto, (mais ou menos) inesperado. Tal como esteve fora do nosso alcance o termos de sair da casa da rua costa pinto, também o cancelamento do contrato da minha empresa com a TAP não esteve ao nosso alcance. Com mais ou menos justificações, vi o meu posto de trabalho ser vendido ao preço mais baixo a uma empresa estrangeira. E toda essa situação foi revoltante.


Podem não ter prestado atenção às notícias, mas foi feita uma pequena reportagem sobre o sucedido que podem ver aqui e onde explica, num registo muito resumido, o que se passou e o motivo pelo qual mais de 100 funcionários portugueses vão ficar desempregados.


Tem sido um processo demorado e que ainda está a decorrer mas, para já, tenho uma certeza: fiquei ficámos sem voos, sem grandes expectativas, sem saber muito bem o que fazer.


Claro está: posso sempre tentar ingressar noutra companhia, tentar continuar a voar — porque, caramba, foi uma profissão que me encheu de orgulho a vários níveis e sentia-me muito realizada. Aliás, posso até afirmar que, mesmo perante todas as adversidades, fui trabalhar todos os dias, todos os voos, muito feliz. Gostava mesmo de ser tripulante e sei que, se quiser, posso continuar a sê-lo. Porque também sei que fui uma óptima tripulante. Em parte (lá está) porque sempre o fiz com muita dedicação e paixão.


Mas da mesma forma que ainda hoje não consigo passar pela Rua Costa Pinto sem parar uns instantes junto à porta do nº67 e sentir pena e uma certa revolta, também agora não consigo pensar em candidatar-me a nenhuma outra companhia de aviação.


Talvez este fosse um ciclo que precisasse de ser fechado. Talvez haja um maravilhoso principio para este fim tão abrupto. Não sei. Nunca sabemos, não é verdade?


E, ao escrever-vos agora, de volta a este espaço que é paz de espírito para mim, apercebo-me da incrível coincidência da vida:


Sair de Paço de Arcos foi a motivação para mudar de vida (a todos os níveis, pessoal e profissional) e foi então o impulso que precisava para procurar novos desafios. O curso de tripulante chega logo a seguir, como a lufada de ar fresco que tanto almejava. Entrei na companhia que me acolheu de braços abertos e me deu asas para voar e perceber que, voar, era exactamente o que eu gostava de fazer. Conheci pessoas incríveis e essas pessoas incríveis apresentaram-me a outras pessoas incríveis — e voltei a encontrar o amor. Sair de Paço de Arcos fez com que eu quisesse procurar um novo trabalho e esse novo trabalho é este que agora termina.


Quem sabe se o terminar deste trabalho não significa que novos desafios estão aí à espera?
 


Se nos últimos anos me fui distanciando um pouco do digital para aproveitar ao máximo a vida lá fora, encontro agora uma vontade crescente de me voltar a reencontrar com vocês. Voltar a escrever, a fotografar, a registar e documentar todos os pequenos detalhes do meu quotidiano (...) é o que me tem trazido alento. Aproveitar o tempo em standby para cultivar a minha criatividade e vontade em ser mais activa nesta comunidade.


Por isso procurei refugiar-me na criação de conteúdos, não só aqui no blog mas também nas redes sociais. Muito mudou nestes últimos anos, no que diz respeito ao digital. Agora valorizam mais os números, os videos, as partilhas curtas. Vou tentar adaptar-me. Mas vou fazê-lo com a certeza de que o quero fazer de forma completa, plena, feliz.


Podem-me acompanhar nos sítios do costume (instagram e facebook) e sintam-se à vontade para partilhar comigo conteúdos que gostassem de ver por aqui publicados e, acima de tudo, histórias que se assemelhem a esta que hoje vos trago. Pensem no espaço de comentários como um porto de abrigo de desabafos e partilha. Estarei aqui, de braços abertos, para vos receber novamente neste que será sempre reflexo dos "little tiny pieces of me".


Obrigada por me lerem e por estarem desse lado!

2 comentários

  1. Bom ler estas tuas palavras! Tudo na vida tem um propósito… e tu aqui no online também brilhas ✨ que a vida te sorria sempre

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